domingo, 21 de outubro de 2007

Comunistas de meia tigela


BANDEIRA Ana Paula é a mais nova comunista


O neocomunismo PCdoB filia personalidades sem compromisso ideológico para disputar as eleições de 2008


ALAN RODRIGUES, da revista Istoé


Nem toda nudez será castigada. Pelo menos se depender do ministro dos Esportes, Orlando Silva, que conseguiu “seduzir” a assistente de arbitragem Ana Paula de Oliveira para ser a mais nova comunista do Brasil. Afastada há quatro meses dos gramados, a bandeirinha que virou estrela pop depois de ter posado nua para uma revista masculina resolveu arriscar-se em mais um lance audacioso: ela quer entrar para a política.


No início do mês, Ana Paula assinou sua ficha no Partido Comunista do Brasil (PCdoB), dias antes de encerrar o prazo de filiação para as eleições municipais de 2008. Segundo seu partido, ela pretende disputar uma cadeira na Câmara Municipal de São Paulo. Ainda é cedo para saber se ela terá votos. Mas no PCdoB, partido fundado em 1962 sob inspiração maoísta, ninguém duvida da “musculatura eleitoral” da moça para reerguer uma legenda que anda em baixa.


No momento em que a fidelidade partidária está em alta, os velhos stalinistas se renderam ao pragmatismo eleitoral e trouxeram para suas trincheiras, só este ano, perto de 50 mil novos filiados. Entre eles, há personalidades que nunca ouviram falar em Karl Marx, Vladimir Lênin, Josef Stálin, Mao Tsé-tung ou mesmo da Albânia – uma espécie de “Disneylândia do PCdoB” nos anos 70 e 80. Agora, isso pouco importa: são detalhes. O que interessa são votos. Ponto.


Esse “arrastão vermelho”, como a estratégia eleitoral foi batizada pelos militantes comunistas, tem as digitais do ministro dos Esportes, Orlando Silva. Com o sucesso dos Jogos Pan-Americanos 2007, no Rio, Silva emergiu como uma das maiores lideranças do partido e conseguiu convencer a antiga cúpula partidária a adotar essa tática audaciosa. “Foi-se o tempo em que, para ser comunista, a pessoa precisava saber a doutrina marxista”, diz o ministro.


“Sempre tivemos uma participação contida nas eleições, chegou a hora de dar uma mudada”, acredita Renato Rabelo, presidente nacional do PCdoB. “Nosso critério para oferecer a legenda a quem quer ser candidato é que a pessoa seja honesta”, diz Rabelo.


“FOI-SE O TEMPO EM QUE, PARA SER COMUNISTA, A PESSOA PRECISAVA SABER A DOUTRINA MARXISTA” Orlando Silva, ministro dos Esportes (PCdoB)


Na busca de visibilidade, o partido que nos anos 70 liderou a guerrilha no Araguaia hoje abdicou a ortodoxia e foi buscar num público eclético seus puxadores de votos. Entre os que vão empunhar a bandeira vermelha, com sua foice e martelo, além de Ana Paula, estão os jogadores Vladimir, ex-Corinthians, Jairzinho, o furacão da Copa de 70, e a medalhista de prata e ex-atacante da seleção feminina de futebol, Maycon Jackson, e o cantor de pagode e empresário Netinho. Também Hugo Oyama – o maior jogador de tênis de mesa brasileiro – e o ator global Fidélis Baniwa, que representou um índio na minissérie Mad-Maria, apresentador da campanha eleitoral do presidente Lula em 2006.


Se depender do ministro Orlando Silva, a ofensiva para conquistar novos militantes em searas heterodoxas vai continuar. “Ninguém nasce pronto. Vamos construir novas lideranças”, promete. Com 20 anos de atraso, o PCdoB vive finalmente sua glasnost (abertura).


Istoé, 24/10/2007:


http://www.terra.com.br/cgi-bin/index_frame/istoe/edicoes/1982/artigo64457-1.htm

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