domingo, 21 de dezembro de 2008

Coral luta para continuar existindo Canto

Sede do grupo olindense sofre com saques freqüentes e mantém teto improvisado

Tatiana Meira // Diario
tatianameira.pe@diariosassociados.com.br

O maestro Otoniel Mendes, se vivo fosse, sentiria um certo desgosto em ver o grupo que ele ajudou a fundar, em 1937, ensaiando em uma casa sem teto. A imóvel, situado no número 164 da Avenida Sigismundo Gonçalves, na entrada de Olinda, abriga, em condições precárias, os ensaios semanais do Coral São Pedro Mártir. Aos 71 anos, é um dos corais mais antigos em atividade no Brasil. Mas apesar de tanta tradição, não recebe qualquer tipo de apoio do poder público ou privado. A sede do coral, doada por Nilo Coelho, quando foi governador, foi roubada e saqueada várias vezes, os troféus e instrumentos sumiram. Mas o amor pela música é maior que os problemas estruturais. Otoniel Mendes certamente ficaria com muito orgulho em ver o coral batalhando para continuar existindo, com gente que resiste desde que o grupo se tornou misto, em 1959.

"Hoje temos 25 integrantes, que vêm aqui toda semana porque gostam de cantar. Tudo o que fazemos é com recurso próprio, mas a maior parte dos componentes é de aposentados ou desempregados", argumenta o atual maestro do coral, Paulo Sérgio Andrade. Hoje, às 19h, o coral fará um concerto gratuito na Igreja de São Pedro Mártir, em Olinda, para comemorar seu 71º aniversário. É época de Natal, mas nem só com canções natalinas foi montado o repertório. Paulo Andrade também selecionou músicas como Fascinação, Wave e Feira de mangaio. "O concerto contará com três momentos: música sacra, popular e à capela. Uma parte será orquestrada", detalha o maestro.

Criado como uma Schola Cantorum, somente com vozes masculinas executando as músicas dos atos litúrgicos da Matriz de São Pedro, em Olinda, o coral só passou a ostentar o nome da igreja em 1959. Começou a aceitar mulheres em sua composição, fazendo apresentações com a finalidade de angariar fundos para a reforma do templo católico. Algumas cantoras, como Ana Torres, estão no grupo desde esta época. "Gosto demais daqui. Só largo no dia em que Deus me levar", afirma Ana. Nomes importantes da música pernambucana também já lideraram o Coral São Pedro Mártir, como Guedes Peixoto, Givanildo Amâncio e José Renato Accioly.

Há também aqueles que desafiam a carência do orçamento doméstico, como Maria José Rodrigues, a Zeza, moradora de Ouro Preto, que integra o São Pedro Mártir há dez anos e caminhava vários quilômetros para chegar aos ensaios. "Hoje pego carona com o maestro", entrega. "Fazemos uma cota para pagar um rapaz que faz transporte escolar para trazer algumas pessoas, pois elas moram muito longe. E quando chove, cantamos segurando os guarda-chuvas, porque o teto caiu", revela Ana Mendes, filha do fundador, Otoniel. Um dos netos dele, Rafael Barrozo, 23 anos, também se juntou ao grupo, simbolizando a quarta geração da família no coral.

Para 2009, apesar da dificuldade financeira, Paulo Andrade traça perspectivas otimistas. "Vamos protestar cantando na Sé. Também queremos inaugurar um projeto para levar o coral às capelas de Olinda e vamos lançar uma maquete do projeto de reforma da sededo grupo", resume o maestro.


http://www.diariodepernambuco.com.br/2008/12/21/viver5_0.asp

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