segunda-feira, 23 de março de 2009

Extorsão de Dinheiro em Olinda: Feirantes denunciam nova ação de milícia em Rio Doce

Quatro dias após prisão de 25 integrantes da quadrilha, comerciantes de Rio Doce, Olinda, dizem ter recebido cobranças e ameaças ontem. PF acredita que valor arrecadado serviria para soltar detidos

Comerciantes da feira de Rio Doce, em Olinda, na Região Metropolitana do Recife, denunciaram que integrantes da milícia que seria liderada pelo ex-vereador do município Fernando Manoel da Silva, 43 anos, mais conhecido como Doca, preso pela Polícia Federal na quarta-feira passada, estavam extorquindo dinheiro dos feirantes na manhã de ontem.
“Eles estão passando em todas as bancas da feira e exigindo pagamento. Eu mesmo não vou pagar. Eles disseram que quem não pagasse iria ter o troco na próxima semana”, contou um feirante, que não quis se identificar por temer represálias.

Outro comerciante contou que quem pagava a taxa ganhava um recibo como garantia. “Eles estavam dando um recibo e falaram para a gente guardar e mostrar na próxima semana. Avisaram que quem estiver sem o documento vai ficar sem segurança. Na verdade, eles mesmos assaltam para nos intimidar”, afirmou.

Os feirantes informaram que o valor da cobrança é variável. “Tem gente que paga R$ 5, R$ 10. Varia. Quem tem mais bancas na feira, paga mais. Hoje (ontem), vi gente dando até R$ 50”, revelou.

A assessoria de imprensa da Polícia Federal informou, na manhã de ontem, que o dinheiro arrecadado pelos integrantes da milícia é utilizado para compra de armas e pagamento de propina a policiais militares.

A Polícia Federal comunicou que a milícia também está tentando arrecadar dinheiro para contratação de advogados. O objetivo é soltar as 25 pessoas que foram presas na Operação Êxodo 7. Ontem, havia o boato de que Doca tinha conseguido a liberdade. A PF comunicou à tarde que todos continuam presos.

INVESTIGAÇÃO

De acordo com informações do delegado federal Márcio Tenório, responsável pela investigação, a quadrilha atuava em Rio Doce, mas tinha ramificação em Jardim Atlântico, também em Olinda, e em Maranguape, Paulista, Grande Recife. “Estávamos em busca de um grupo de extermínio, só que descobrimos que eles não matavam por encomenda. Tinham características de milicianos, inclusive com a criação de uma empresa clandestina de segurança privada em Rio Doce. Na prática, eles lotearam uma área e determinavam o que podia ou não acontecer naquele espaço”, informou.

Segundo Márcio Tenório, os comerciantes estabelecidos no limite determinado pela quadrilha eram obrigados a contribuir com a segurança clandestina. “Assaltos, homicídios e tráfico não podiam acontecer naquele limite. Do lado de fora tudo era permitido. Quem não contribuía era vítima de roubos ou arrombamentos. E quem comandava tudo era o ex-vereador”, disse.

O grupo atuava há uma década, em Rio Doce. Nos últimos dois anos, teria praticado 16 homicídios. As vítimas eram, em sua maioria, suspeitas de roubos e desafetos. Vigilantes, traficantes, presidiários e mulheres integravam o bando. Todos os detidos tinham mandados de prisão preventiva expedidos. As ações da quadrilha foram filmadas e gravadas pelos policiais, que apreenderam armas e drogas.

http://jc3.uol.com.br/jornal/2009/03/23/not_323861.php

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