domingo, 2 de agosto de 2009

Olinda: Circo, exploração e pão que o diabo amassou

Cirque du Soleil vai embora de Pernambuco, mais precisamente da divisa Recife/Olinda e não levará um centavo meu. Levará sim apenas minha indignação, porque o Quidam se aproveitou das pessoas e dos representantes do poder público. De forma fácil e tranqüila. Quase todas às noites viaturas da PM e do Batalhão de Trânsito estavam nos arredores do Parque Memorial Arcoverde, garantindo segurança para os ricos, abastados, em detrimento dos pobres e favelados que se escondem em áreas circunvizinhas.

O circo mostrou claramente aos “bobos da corte" que moramos numa cidade indiferente à desigualdade social, com 1, 5 milhão de pessoas que estão abaixo da linha da pobreza. Daqueles desempregados, miseráveis e marginalizados pela sociedade. “Sim, somos nós que estamos nas calçadas. Sim, somos nós que estamos nas prisões, nos alagados”. De uma cidade sem respeito às pessoas e ao meio ambiente.

Mandaram até derrubar árvores em nome do poder econômico. Gostaria muito que todo o lucro arrecadado fosse revertido em multa, porém, o crime contra a natureza é inafiançável, ou seja, vale uma pizza para os poderosos. Lembramos que no dia a dia, coisas tristes e trágicas acontecem na cidade chamada de "Veneza brasileira", debaixo dos narizes dos bajuladores, dos poderosos e seus asseclas.

Eu jamais pagaria um preço por uma arte feita a esse preço. Nada pessoal contra os artistas que fazem do circo um grande espetáculo. Ganham e treinam para serem mais do que perfeitos. 100% algodão. É bonito, requintado, com alto padrão de qualidade, mas absurdamente caro para a realidade da maioria dos pernambucanos. Ao passar pelo Circo, lembro que aqui é a terra de nossos familiares, amigos, irmãos e camaradas. Aqui é nosso lugar, é o lugar de nossa gente.

E os governantes bem que poderiam ter bancado algum subsídio para baratear o custo do ingresso e fazer a alegria de outras pessoas que, nunca entraram num circo. E os órgãos de defesa do consumidor batem palmas pro espetáculo? Estão de férias? Fecharam as portas por causa do Cirque du Soleil?

E a Mídia? Cadê a Mídia? Um ou outro companheiro (a) teve a coragem de levantar a voz em defesa do povo. Bom, os convites, os comes e bebes compraram o silêncio dos “rebeldes sem causa”? Eles ficaram surdos, ou melhor perderam o senso da critica, da lógica, da indignação?

Como disse e repito: os preços são acintosos, descarados – desde a entrada, passando pelo estacionamento, das convidativas guloseimas, sem falar nas “lembranças” da lojinha do circo. Isso é coisa de gente cínica e gananciosa!

Circo e exploração fazem do Quidam um espetáculo único contra aqueles que têm fome e sede de justiça. O Circo é um insulto!

Como bem disse Gibram Khalil: “Como posso perder minha fé na justiça da vida, quando os sonhos dos que dormem num colchão de penas não são mais belos do que dormem no chão”. Aqueles "espertinhos" terão noites mal dormidas, pesadelos, insônias e depressões.

A noite é a luta, o dia o futuro de todas as almas e a madrugada é sua esperança e seu arauto, anunciando o final das agonias. Se, hoje, sombras compactas teimam em envolver o céu da existência, não posso deixar de acreditar na beleza do sol, vencendo à noite mansamente nas malhas da madrugada.

Chico Carlos
Jornalista
Recife/PE


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Um comentário:

FCMont disse...

Ivan,

Sei que passados mais de 6 meses, qualquer comentário perde o sentido ou fica deslocado no tempo e no espaço MAS vamos lá.

Achei que o que existe por trás do artigo original é um grande despeito ou uma imensa revolta, fora de propósito.

Concordei inteiramente com esta parte:

"E os governantes bem que poderiam ter bancado algum subsídio para baratear o custo do ingresso e fazer a alegria de outras pessoas que, nunca entraram num circo."

Representantes de comunidades carentes, idosos e alunos de escolas públicas poderiam, de alguma forma, ter sido beneficiados.

De resto só posso dizer que, se existem um ou dois milhões de cidadãos carentes de emprego ou de serviços públicos, nada disso justificaria a não vinda do circo.

E não é por causa disso que os que puderem pagar devem perder a oportunidade de assistir ao espetáculo.

É o mesmo que pregar a demolição do Plaza Shopping apenas porque um terço da população do grande Recife não pode comprar muito mais do que um simples sorvete vendido naquele centro de consumo de luxo.

Se o jornalista que escreveu a matéria acha que o circo não merece levar o dinheiro dele, cabe a mim respeitar tal opinião e talvez até concordar.

Mas transformar a vinda do circo num manifesto contra a desigualdade social é misturar "alhos com bugalhos".

Culpe os governantes, a preguiça histórica do nosso povo, na tendência facilmente encontrada em algumas camadas da população de atribuir suas dificuldades pessoais na falta de ajuda dos outros e nunca na própria indolência ou acomodação.

Não há ideologia ou teoria sociológica que elimine inteiramente a desigualdade social.

Assim sendo, o texto me pareceu mais um manifesto típico de um adolescente revoltado, deslumbrado com as idéias tortuosas de Hegel ou com o socialismo falido de Marx do que com uma matéria que poderia, sem emitir qualquer opinião pessoal, comparar os contrastes entre a riqueza do circo e a pobreza do entorno aonde o mesmo foi erguido.

É isso.